quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Telefone Amigo

Quando eu era criança, meu pai comprou um dos primeiros telefones da vizinhança. Lembro-me bem daquele velho aparelho preto, em forma de caixa, bem polido, afixado à parede. O receptor brilhante pendia ao lado da caixa. Eu ainda era muito pequeno para alcançar o telefone, mas costumava ouvir e ver minha mãe enquanto ela o usava, e ficava fascinado com a cena!
Então, descobri que em algum lugar dentro daquele maravilhoso aparelho existia uma pessoa maravilhosa, e o nome dela era"Informação, por favor" e não havia coisa alguma que ela não soubesse. "Informação, por favor" poderia fornecer o número de qualquer pessoa e até a hora certa.
Minha primeira experiência pessoal com esse "gênio da lâmpada" aconteceu num dia em que minha mãe foi na casa de um vizinho. Divertindo-me bastante mexendo nas coisas da caixa de ferramentas no porão, machuquei meu polegar com um martelo.
A dor foi horrível, mas não parecia haver qualquer razão para chorar, porque eu estava sozinho em casa e não tinha ninguém para me consolar. Eu comecei a andar pelo porão, chupando meu dedão que pulsava de dor, chegando finalmente à escada e subindo-a.
Então, lembrei-me: o telefone!Rapidamente peguei uma cadeira na sala de visitas e usei-a para alcançar o telefone. Desenganchei o receptor, segurei-o próximo ao ouvido como via minha mãe fazer e disse:
"Informação, por favor!"
Alguns segundos depois, uma voz suave e bem clara falou ao meu ouvido:
"Informação."
Então, choramingando, eu disse: "Eu machuquei o meu dedo..."
Agora que eu tinha platéia: as lágrimas começaram a rolar sobre o meu rosto.
"Sua mãe não está em casa?" , veio a pergunta. "Ninguém está em casa a não ser eu", falei chorando. "Você está sangrando?" Ela perguntou. "Não." Eu respondi. "Eu machuquei o meu dedão com o martelo e está doendo muito!"
Então a voz suave, do outro lado falou:
"Você pode ir até a geladeira?"
Eu disse que sim. Ela continuou, com muita calma:
"Então, pegue uma pedra de gelo e fique segurando firme sobre o dedo."
E a coisa funcionou! Depois do ocorrido, eu chamava "Informação, por favor" pra qualquer coisa.Pedia ajuda nas tarefas de geografia da escola e ela me dizia onde Filadélfia se localizava no mapa.Ajudava-me nas tarefas de matemática.Ela me orientou sobre qual tipo de comida eu poderia dar ao filhote de esquilo que peguei no parque para criar como bichinho de estimação.
Houve também o dia em que Petey, nosso canário de estimação, morreu.Eu chamei "Informação, por favor" e contei-lhe a triste estória.Ela ouviu atentamente, então falou-me palavras de conforto que os adultos costumam dizer para consolar uma criança.
Mas eu estava inconsolável naquele dia e perguntei-lhe:
"Por que é que os passarinhos cantam de maneira tão bela, dão tanta alegria com sua beleza para tantas famílias e terminam suas vidas como um monte de penas numa gaiola?"
Ela deve ter sentido minha profunda tristeza e preocupação pelo fato de haver dito calmamente:
"Paul, lembre-se sempre de que existem outros mundos onde se pode cantar!"
Não sei porquê, mas me senti bem melhor.
Numa outra ocasião, eu estava ao telefone:"Informação, por favor".
"Informação," disse a já familiar e suave voz.
"Como se soletra a palavra consertar?" Perguntei.
Tudo isso aconteceu numa pequena cidade da costa oeste dos Estados Unidos. Quando eu estava com nove anos, nos mudamos para Boston, na costa leste. Eu senti muitas saudades de minha voz amiga!
"Informação, por favor" pertencia àquela caixa de madeira preta afixada na parede de nossa outra casa; e eu nunca pensei em tentar a mesma experiência com o novo telefone diferente que ficava sobre a mesa, na sala de nossa nova casa.Mesmo já na adolescência, as lembranças daquelas conversas de infância com aquela suave e atenciosa voz nunca saíram de minha cabeça.
Com certa freqüência, em momentos de dúvidas e perplexidade, eu me lembrava daquele sentimento sereno de segurança que me era transmitido pela voz amiga que gastou tanto tempo com um simples menininho.
Alguns anos mais tarde, quando eu viajava para a costa oeste a fim de iniciar meus estudos universitários, o avião pousou em Seattle, região onde eu morava quando criança, para que eu pegasse um outro e seguisse viagem.Eu tinha cerca de meia hora até que o outro avião decolasse. Passei então uns 15 minutos ao telefone, conversando com minha irmã que na época estava morando lá. Então, sem pensar no que estava exatamente fazendo, eu disquei para a telefonista e disse:
"Informação, por favor".
De um modo milagroso, eu ouvi a suave e clara voz que eu tão bem conhecia!
"Informação."
Eu não havia planejado isso, mas ouvi a mim mesmo dizendo:
"Você poderia me dizer como se soletra a palavra consertar?"
Houve uma longa pausa. Então ouvi a tão suave e atenciosa voz responder:
"Espero que seu dedo já esteja bem sarado agora!"
Eu ri satisfeito e disse:
"Então, ainda é realmente você? Eu fico pensando se você tem a mínima idéia do quanto você significou para mim durante todo aquele tempo de minha infância!"
Ela disse:
"E eu fico imaginando se você sabe o quanto foram importantes para mim as suas ligações!"
E continuou:
"Eu nunca tive filhos e ficava aguardando ansiosamente por suas ligações."
Então, eu disse pra ela que muito freqüentemente eu pensava nela durante todos esses anos e perguntei-lhe se poderia telefonar para ela novamente quando eu fosse visitar minha irmã.
"Por favor, telefone sim! É só chamar por Sally".
Três meses depois voltei a Seattle. Uma voz diferente atendeu:
"Informação".
Eu perguntei por Sally.
"Você é um amigo?" Ela perguntou.
"Sim, um velho amigo". Respondi.
Ela disse:
"Sinto muito em dizer-lhe isto, mas Sally esteve trabalhando só meio período nos últimos anos porque estava adoentada. Ela morreu há um mês."
Antes que eu desligasse ela disse:
"Espere um pouco. Seu nome é Paul?"
"Sim". Respondi.
"Bem, Sally deixou uma mensagem para você. Ela deixou escrita caso você ligasse.Deixe-me ler para você."
A mensagem dizia:
"Diga pra ele que eu ainda continuo dizendo que existem outros mundos onde podemos cantar. Ele vai entender o que eu quero dizer".
Eu agradeci emocionado e muito tristemente desliguei o telefone. Sim, eu sabia muito bem o que Sally queria dizer.

Autor: Desconhecido
Mesmo não sendo o autor desse conto, eu dedico ele a uma amiga que sempre participa do nosso blog, Feliz Aniversário Katiane e que Deus te acompanhe pra sempre!!
Júlio.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Estados Alternados da Mente – Kanangas da Percepção



Na virada da década de 80 para 90, aconteceu um fato histórico (que ninguém mais lembra) no meu bairro. Um louco varrido comprou uma mansão e a transformou num bar. Você podia andar pela casa, piscina e jardim, onde tinham mesas para os clientes, era o “point” do momento, todo mundo ia.


Na época passava uma telenovela na extinta Rede Manchete, baseada na história dos alemães que viviam no sul do Brasil no tempo da quebra da bolsa de valores de Nova York, pouco mais de uma década antes da Segunda Grande Guerra Mundial. A telenovela chamava-se de “Kananga do Japão”, daí, no meu bairro foi fundado o “Kananga do Zecão” que não era um bordel como na novela, mas tava bom demais, tão bom que sempre depois de meia noite algum bebum caía de roupa e tudo na piscina, já era tradição.


Numa dessas vezes, estava eu sozinho curtindo meus primeiros anos de adulto, era maravilhoso ter liberdade total, beber o quanto quisesse pagar com meu próprio dinheiro e não dever nada a ninguém. Foi então que um amigo, que acho que nem mora mais no Brasil, colocou a mão em meu ombro e disse:
- Acho que você já bebeu demais, vá pra casa!
Na mesma hora pensei na piscina e resolvi ir embora, nunca fui de discutir mesmo. Então procurei Zecão dono do bar, paguei a conta e saí. Andei devagar observado as estrelas, era uma sexta-feira e no outro dia iria mergulhar no boqueirão a 1 km de distância da costa da praia, o vento era nordeste e tudo indicava que ia ser perfeito. Passei por uns becos que costumava usar como atalho pra chegar à minha casa, cruzei com um vizinho que cumprimentei e pensei o que ele estaria fazendo tão tarde na rua, pois já devia passar das duas da manhã. Quando cheguei a minha casa as coisas começaram a ficar realmente estranhas, pois ao lado havia um pequeno terreno baldio com uma árvore e tinham crianças brincando de ciranda em volta dela. Todas de branquinho, apenas sorriram pra mim quando me viram, e eu sorri de volta e pulei o muro de casa (costume da época, não gostava de abrir o portão).


Derrepente já estava de dia, as crianças haviam desaparecido, olhei para o céu e vi as nuvens se movendo rapidamente no que seria um vento sul. Foi então que pensei, estaria sonhando? Resolvi subir as escadas que levava para o terraço, foi quando tive uma visão onírica, no terraço havia uma outra escada que não levava a lugar algum, simplesmente os degraus eram cobertos de espinhos grandes e retorcidos que impossibilitavam a subida e no topo estava toda de branco, uma namoradinha que eu tinha na época, seus loiros e enormes cabelos balançavam ao vento e seu rosto tinha um ar malicioso.
Pensei: Porra! Até aqui no sonho você faz jogo duro? Apontei o dedo na cara dela e disse: vá à merda! E virei às costas, voltei a pensar no meu sonho, será que podia voar? Então subi no muro do terraço e olhei pra baixo e pensei: vou pular e ver o que acontece! Pulei, senti o vento no meu rosto e no meio da queda eu lembrei que alguém disse que se agente morrer no sonho, morre de verdade...


Acordei na cama na mesma posição que tinha caído do terraço, eu realmente tinha sonhado tudo aquilo, o que eu não sei até hoje, foi a partir de que horas começou o sonho e terminou a realidade.


Autor: Júlio César

domingo, 11 de novembro de 2007

Transição


Escuta-me e não relute!
Quando sentires a dor da partida
Seja ínfimo, mas não demonstre
Seja louco, porém, equilibrado
Seja até mesmo sórdido
Mas, complacente consigo mesmo...

Aliás, dor é sempre dor!
Sentimento nosso e humano
Sempre será substituída por outra
Como a flor num imenso jardim
Que culmina sua beleza e murcha
Dando lugar a outra mais perfumada e rara
Numa fria manhã de Outono...

Porém, se não aprendeu a admirar a natureza
Como uma eterna substituição ascendente de valores
Não estará preparado para compreender
A eternidade no ser que substitui a si mesmo.

Autor: Luiz Neto

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Sensualidade Feminina


Eu mirei em sua direção
E vislumbrei toda sua forma
Seus traços, suas curvas e provocações...
Admirei seus passos e a performance de suas evoluções...

A música embalou seus movimentos
E consumiu a atenção peculiar de cada um...
Sensualidade a flor da sedução margeou
Palpitante aos olhares que se entregaram
A aquela criatura cobiçada...

Como se despir em tons, notas e peças íntimas
Foi você! A mulher desejada que encantou e afogou
Totalmente o realismo do cotidiano
E aflorou a magia da ilusão...


Autor: Luiz Neto

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

A Árvore da Ciência do Bem e do Mal

No início tudo era paz, e era perfeito! O grande Ser era dividido em milhares de partes, todas se amavam e se completavam no grande Ser. Tudo era etéreo, e era perfeito! O grande Ser precisava aprender e dividiu-se em milhares de partes para buscar conhecimento em todos os lugares, não havia dor e nem sofrimento, e era perfeito! Então duas partes do grande Ser vieram habitar nosso mundo que ainda não existia. Eles viviam conforme as Leis do grande Ser, não lhes faltava nada, viviam felizes e sem ter o que fazer, e era perfeito! Um dia encontraram nos arredores de seu lar um enigmático mecanismo. Não conseguiam entender para que servia, já que tudo que conheciam, foi explicado a devida utilidade. Curiosos foram procurar o grande Ser para saber acerca do misterioso artefato. Advertidos foram, para que não se aproximassem do objeto, pois o mesmo lhes traria sofrimento e dor. As duas partes voltaram ao lar e descobriram que nada sabiam, pois sempre viveram a gozar felicidade como crianças inocentes e resolveram aprender alguma coisa para enriquecer o conhecimento do grande Ser. Quiseram então saber o que era o sofrimento, pois era uma coisa que ninguém sabia. Decididos, foram até o artefato. Examinaram-no por muito tempo sem saber o que fazer, e foi assim por muito tempo até que o labor lhes legou o pensamento lógico. À medida que estudavam, o raciocínio lhes invadiam como uma serpente veloz.

Chegou afinal o tempo em que conseguiram acionar o mecanismo. Houve uma explosão com alto estrondo e luz intensa. Todo aquele mundo de esplendor gerou uma imagem idêntica, porém, essa imagem não era etérea, ao contrário, era densa. Por instantes os dois mundos se observaram como pai e filho, se amaram e se emaranharam numa dança que gerou o tempo.
Os dois seres passaram a ser cobertos por aquela matéria densa que lhes trouxeram muita dor. O contato com o grande Ser não era tão claro como antigamente, mas ainda O Ouviam. O tempo passou e os dois seres geraram outros seres que na verdade eram seus irmãos de outrora que agora também utilizavam aquela mesma vestimenta densa.


Juntos eles viveram por milhares de anos, e aprenderam com o sofrimento, muitos valores que antes ignoravam. Então, finalmente chegou o dia em que totalmente enriquecidos de conhecimento, precisariam voltar ao grande Ser para voltarem a ser um. E assim, aquele mundo começou a desfazer-se até que implodiu. Todos perderam a casca material e mais uma vez eram etéreos, sem dor, sem sofrimento, unidos no seio do grande Ser. Aquele acontecimento se repetiria quantas vezes o grande Ser achasse necessário. Mas antes da próxima explosão, se amaram e confraternizaram com a grande odisséia vivida, e foi perfeito!


Autor: Júlio César

NAU

Navegar é preciso!
Mesmo que o horizonte seja fel
E a tempestade a derrube

Erga-se e conduze teu ideal
Por que a nau à deriva
Ainda não naufragou

Tomou por certo o caminho dos ventos
Traçou a rota pertinente da convicção
Olhou para o céu e içou tua bandeira!

Por fim, mesmo sem pleno vigor
Saiu mais intensa e menos tépida
Do que o mar que outrora a desafiou.
Autor: Luiz Neto

terça-feira, 30 de outubro de 2007

A Lenda de Hiro

Era final de setembro, flores de todas as cores adornavam os canteiros da pequena cidade Salém, todo o lugar parecia ter vida própria, tudo estava em crescimento e diversos aprendizes e artífices de bairros vizinhos estavam sendo contratados para a obra de expansão. Em sua juventude, Hiro sonhava com a prosperidade que proveria de trabalho árduo, porém, ele tinha planos, mas não possuía a arte, nem mesmo era aprendiz de coisa alguma, mas estava decidido a levar seus sonhos adiante.

Um dia, depois de muita procura por emprego, parou para descansar junto a um operário sob a sombra de uma frondosa acácia. Cumprimentou cordialmente como era de costume na cidade, e limpou o suor que já lhe banhava toda a fronte. Percebendo preocupação e desapontamento no jovem de aparência singela, o operário arriscou:

- Procurando emprego, meu jovem?
- Sim! – Afirmou Hiro em tom de quase desespero, e desembestadamente, narrou todas as suas desventuras em busca de trabalho. Depois de um pouco de conversa, o operário concluiu que o jovem Hiro estaria apto para uma vaga em sua oficina, pois o jovem mostrara ser de bons costumes.

Ficou combinado então que Hiro deveria se apresentar no outro dia para conhecer os outros membros da oficina às 12:00hs em ponto. De inicio, Hiro apavorou-se, pois tudo era novidade, tinha dificuldades para aprender o oficio, parecia que andava de olhos vendados pelo terreno da oficina, e o medo de não ser capaz o devorava. E na hora do descanso do primeiro dia, teve o prazer de conhecer o mestre da oficina, que em sua sabedoria, soube tranqüilizar seu novo aprendiz.

- Tenha fé! Se os seus ideais são puros, o grande construtor que nos protege, proverá!– Disse o mestre com carinho de irmão. Nesse momento, Hiro olhou ao longe e viu uma igrejinha com uma cruz em cima e guardou aquele símbolo do telhado da igreja na sua mente e no seu coração para sempre poder se lembrar de sua fé.

Tempos depois, em um determinado verão, quando Hiro já era um verdadeiro artífice, e dominava a arte da construção, descobriu que o que aprendeu naquela oficina mudou sua vida para sempre, era um homem agora, totalmente capaz e responsável por seu trabalho, e descobriu também que todo aquele conhecimento deveria ser ministrado com cuidado, pois se aquele mesmo conhecimento de construção caísse em mãos erradas, edificações sem segurança seriam construídos colocando em risco seus habitantes, e naquela noite, Hiro sonhou com uma chave que caia de uma porta.

Houve de fato, numa época de primavera, uma grande quebra de sigilo da grande arte, três companheiros de trabalho de Hiro revoltaram-se com seus salários, alegando merecer maior pagamento e acabaram por deixar aquela oficina e formarem outra em outro bairro. A ganância dos três era tão grande que nem se importaram com a arte e passaram o conhecimento para aprendizes completamente despreparados. Não tardou para que essa dissidência gerasse verdadeiras catástrofes, diversas edificações desabaram por toda a cidade vitimando um sem números de cidadãos, após tantas mortes e sofrimentos, as oficinas acabaram por ser perseguidas, apedrejadas e destruídas pela população em fúria. As pessoas voltaram a morar em cabanas, causando um grande atraso na história da evolução humana, e os operários não se identificavam mais como pedreiros, com medo de repressão e a grande arte caiu em esquecimento.

Hiro passou por terríveis privações, pois se encontrava novamente desempregado e a única coisa que sabia era construir. Passou o tempo, e Hiro devido a fome, idade avançada e outros infortúnios, encontrava-se com a saúde totalmente debilitada e morando na rua, sentou certo dia próximo a uma grande ancora de uma embarcação abandonada no cais da cidade, chorou de angustia por seus irmãos caídos mas não perdeu a esperança de um dia a grande arte voltar a ser glorificada, e como já era noite acabou por dormir naquele lugar. O mês de junho já estava no fim, e o inverno naquele ano foi terrível e a única proteção que Hiro possuía era um cobertor velho. Após o dia amanhecer caminhou um pouco para esquentar os ossos sob o fraco sol que brilhava, e avistou uma criança que passava frio em uma calçada próximo ao mercado, não se continha em ver alguns cidadãos comerem e beberem em taças transbordantes de vinho enquanto aquela criança definhava. Sem pensar duas vezes, Hiro tirou seu cobertor e cobriu a criança que se deitava ali. A noite caiu rápido e o frio veio intenso e fatal para Hiro que a essas alturas cuspia sangue sempre que tossia.

De súbito, já não sentia mais frio, nem fome ou dor, sentia-se aquecido e confortável, percebeu que tinha deixado aquele mundo de sofrimento, entendia perfeitamente o significado do “oriente eterno”. A sua frente, uma luz forte e de intensa beleza fustigava seus olhos. Hiro olhou para traz e viu a grande escalada que foi sua vida, e cada virtude que aprendeu em cada degrau dessa subida. Então ele sorriu e tornou a vislumbrar satisfeito a luz a sua frente, pois finalmente ele via a estrela flamejante.
Autor: Júlio César