Era final de setembro, flores de todas as cores adornavam os canteiros da pequena cidade Salém, todo o lugar parecia ter vida própria, tudo estava em crescimento e diversos aprendizes e artífices de bairros vizinhos estavam sendo contratados para a obra de expansão. Em sua juventude, Hiro sonhava com a prosperidade que proveria de trabalho árduo, porém, ele tinha planos, mas não possuía a arte, nem mesmo era aprendiz de coisa alguma, mas estava decidido a levar seus sonhos adiante.
Um dia, depois de muita procura por emprego, parou para descansar junto a um operário sob a sombra de uma frondosa acácia. Cumprimentou cordialmente como era de costume na cidade, e limpou o suor que já lhe banhava toda a fronte. Percebendo preocupação e desapontamento no jovem de aparência singela, o operário arriscou:
- Procurando emprego, meu jovem?
- Sim! – Afirmou Hiro em tom de quase desespero, e desembestadamente, narrou todas as suas desventuras em busca de trabalho. Depois de um pouco de conversa, o operário concluiu que o jovem Hiro estaria apto para uma vaga em sua oficina, pois o jovem mostrara ser de bons costumes.
Ficou combinado então que Hiro deveria se apresentar no outro dia para conhecer os outros membros da oficina às 12:00hs em ponto. De inicio, Hiro apavorou-se, pois tudo era novidade, tinha dificuldades para aprender o oficio, parecia que andava de olhos vendados pelo terreno da oficina, e o medo de não ser capaz o devorava. E na hora do descanso do primeiro dia, teve o prazer de conhecer o mestre da oficina, que em sua sabedoria, soube tranqüilizar seu novo aprendiz.
- Tenha fé! Se os seus ideais são puros, o grande construtor que nos protege, proverá!– Disse o mestre com carinho de irmão. Nesse momento, Hiro olhou ao longe e viu uma igrejinha com uma cruz em cima e guardou aquele símbolo do telhado da igreja na sua mente e no seu coração para sempre poder se lembrar de sua fé.
Tempos depois, em um determinado verão, quando Hiro já era um verdadeiro artífice, e dominava a arte da construção, descobriu que o que aprendeu naquela oficina mudou sua vida para sempre, era um homem agora, totalmente capaz e responsável por seu trabalho, e descobriu também que todo aquele conhecimento deveria ser ministrado com cuidado, pois se aquele mesmo conhecimento de construção caísse em mãos erradas, edificações sem segurança seriam construídos colocando em risco seus habitantes, e naquela noite, Hiro sonhou com uma chave que caia de uma porta.
Houve de fato, numa época de primavera, uma grande quebra de sigilo da grande arte, três companheiros de trabalho de Hiro revoltaram-se com seus salários, alegando merecer maior pagamento e acabaram por deixar aquela oficina e formarem outra em outro bairro. A ganância dos três era tão grande que nem se importaram com a arte e passaram o conhecimento para aprendizes completamente despreparados. Não tardou para que essa dissidência gerasse verdadeiras catástrofes, diversas edificações desabaram por toda a cidade vitimando um sem números de cidadãos, após tantas mortes e sofrimentos, as oficinas acabaram por ser perseguidas, apedrejadas e destruídas pela população em fúria. As pessoas voltaram a morar em cabanas, causando um grande atraso na história da evolução humana, e os operários não se identificavam mais como pedreiros, com medo de repressão e a grande arte caiu em esquecimento.
Hiro passou por terríveis privações, pois se encontrava novamente desempregado e a única coisa que sabia era construir. Passou o tempo, e Hiro devido a fome, idade avançada e outros infortúnios, encontrava-se com a saúde totalmente debilitada e morando na rua, sentou certo dia próximo a uma grande ancora de uma embarcação abandonada no cais da cidade, chorou de angustia por seus irmãos caídos mas não perdeu a esperança de um dia a grande arte voltar a ser glorificada, e como já era noite acabou por dormir naquele lugar. O mês de junho já estava no fim, e o inverno naquele ano foi terrível e a única proteção que Hiro possuía era um cobertor velho. Após o dia amanhecer caminhou um pouco para esquentar os ossos sob o fraco sol que brilhava, e avistou uma criança que passava frio em uma calçada próximo ao mercado, não se continha em ver alguns cidadãos comerem e beberem em taças transbordantes de vinho enquanto aquela criança definhava. Sem pensar duas vezes, Hiro tirou seu cobertor e cobriu a criança que se deitava ali. A noite caiu rápido e o frio veio intenso e fatal para Hiro que a essas alturas cuspia sangue sempre que tossia.
De súbito, já não sentia mais frio, nem fome ou dor, sentia-se aquecido e confortável, percebeu que tinha deixado aquele mundo de sofrimento, entendia perfeitamente o significado do “oriente eterno”. A sua frente, uma luz forte e de intensa beleza fustigava seus olhos. Hiro olhou para traz e viu a grande escalada que foi sua vida, e cada virtude que aprendeu em cada degrau dessa subida. Então ele sorriu e tornou a vislumbrar satisfeito a luz a sua frente, pois finalmente ele via a estrela flamejante.
Autor: Júlio César
3 comentários:
Eiiiii
Espero poder compartilhar com vc muitas e muitas ledas, muitos e muitos contos e poemas por aqui..
Te desejo Muiiiiiiiita imaginação!
BjOs
Obrigado pelo apoio, vc sabe que vc foi uma das maiores responsáveis pela existência desse blog.
Aeeeeeeee fez um blog hein ...
Muito interessante mesmo, sua imaginação flui muitíssimo bem, continue assim . Qualquer coisa estamos aqui pra dar apoio !!
bjuus
Ingrid
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