quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Estados Alternados da Mente – Kanangas da Percepção



Na virada da década de 80 para 90, aconteceu um fato histórico (que ninguém mais lembra) no meu bairro. Um louco varrido comprou uma mansão e a transformou num bar. Você podia andar pela casa, piscina e jardim, onde tinham mesas para os clientes, era o “point” do momento, todo mundo ia.


Na época passava uma telenovela na extinta Rede Manchete, baseada na história dos alemães que viviam no sul do Brasil no tempo da quebra da bolsa de valores de Nova York, pouco mais de uma década antes da Segunda Grande Guerra Mundial. A telenovela chamava-se de “Kananga do Japão”, daí, no meu bairro foi fundado o “Kananga do Zecão” que não era um bordel como na novela, mas tava bom demais, tão bom que sempre depois de meia noite algum bebum caía de roupa e tudo na piscina, já era tradição.


Numa dessas vezes, estava eu sozinho curtindo meus primeiros anos de adulto, era maravilhoso ter liberdade total, beber o quanto quisesse pagar com meu próprio dinheiro e não dever nada a ninguém. Foi então que um amigo, que acho que nem mora mais no Brasil, colocou a mão em meu ombro e disse:
- Acho que você já bebeu demais, vá pra casa!
Na mesma hora pensei na piscina e resolvi ir embora, nunca fui de discutir mesmo. Então procurei Zecão dono do bar, paguei a conta e saí. Andei devagar observado as estrelas, era uma sexta-feira e no outro dia iria mergulhar no boqueirão a 1 km de distância da costa da praia, o vento era nordeste e tudo indicava que ia ser perfeito. Passei por uns becos que costumava usar como atalho pra chegar à minha casa, cruzei com um vizinho que cumprimentei e pensei o que ele estaria fazendo tão tarde na rua, pois já devia passar das duas da manhã. Quando cheguei a minha casa as coisas começaram a ficar realmente estranhas, pois ao lado havia um pequeno terreno baldio com uma árvore e tinham crianças brincando de ciranda em volta dela. Todas de branquinho, apenas sorriram pra mim quando me viram, e eu sorri de volta e pulei o muro de casa (costume da época, não gostava de abrir o portão).


Derrepente já estava de dia, as crianças haviam desaparecido, olhei para o céu e vi as nuvens se movendo rapidamente no que seria um vento sul. Foi então que pensei, estaria sonhando? Resolvi subir as escadas que levava para o terraço, foi quando tive uma visão onírica, no terraço havia uma outra escada que não levava a lugar algum, simplesmente os degraus eram cobertos de espinhos grandes e retorcidos que impossibilitavam a subida e no topo estava toda de branco, uma namoradinha que eu tinha na época, seus loiros e enormes cabelos balançavam ao vento e seu rosto tinha um ar malicioso.
Pensei: Porra! Até aqui no sonho você faz jogo duro? Apontei o dedo na cara dela e disse: vá à merda! E virei às costas, voltei a pensar no meu sonho, será que podia voar? Então subi no muro do terraço e olhei pra baixo e pensei: vou pular e ver o que acontece! Pulei, senti o vento no meu rosto e no meio da queda eu lembrei que alguém disse que se agente morrer no sonho, morre de verdade...


Acordei na cama na mesma posição que tinha caído do terraço, eu realmente tinha sonhado tudo aquilo, o que eu não sei até hoje, foi a partir de que horas começou o sonho e terminou a realidade.


Autor: Júlio César

domingo, 11 de novembro de 2007

Transição


Escuta-me e não relute!
Quando sentires a dor da partida
Seja ínfimo, mas não demonstre
Seja louco, porém, equilibrado
Seja até mesmo sórdido
Mas, complacente consigo mesmo...

Aliás, dor é sempre dor!
Sentimento nosso e humano
Sempre será substituída por outra
Como a flor num imenso jardim
Que culmina sua beleza e murcha
Dando lugar a outra mais perfumada e rara
Numa fria manhã de Outono...

Porém, se não aprendeu a admirar a natureza
Como uma eterna substituição ascendente de valores
Não estará preparado para compreender
A eternidade no ser que substitui a si mesmo.

Autor: Luiz Neto

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Sensualidade Feminina


Eu mirei em sua direção
E vislumbrei toda sua forma
Seus traços, suas curvas e provocações...
Admirei seus passos e a performance de suas evoluções...

A música embalou seus movimentos
E consumiu a atenção peculiar de cada um...
Sensualidade a flor da sedução margeou
Palpitante aos olhares que se entregaram
A aquela criatura cobiçada...

Como se despir em tons, notas e peças íntimas
Foi você! A mulher desejada que encantou e afogou
Totalmente o realismo do cotidiano
E aflorou a magia da ilusão...


Autor: Luiz Neto

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

A Árvore da Ciência do Bem e do Mal

No início tudo era paz, e era perfeito! O grande Ser era dividido em milhares de partes, todas se amavam e se completavam no grande Ser. Tudo era etéreo, e era perfeito! O grande Ser precisava aprender e dividiu-se em milhares de partes para buscar conhecimento em todos os lugares, não havia dor e nem sofrimento, e era perfeito! Então duas partes do grande Ser vieram habitar nosso mundo que ainda não existia. Eles viviam conforme as Leis do grande Ser, não lhes faltava nada, viviam felizes e sem ter o que fazer, e era perfeito! Um dia encontraram nos arredores de seu lar um enigmático mecanismo. Não conseguiam entender para que servia, já que tudo que conheciam, foi explicado a devida utilidade. Curiosos foram procurar o grande Ser para saber acerca do misterioso artefato. Advertidos foram, para que não se aproximassem do objeto, pois o mesmo lhes traria sofrimento e dor. As duas partes voltaram ao lar e descobriram que nada sabiam, pois sempre viveram a gozar felicidade como crianças inocentes e resolveram aprender alguma coisa para enriquecer o conhecimento do grande Ser. Quiseram então saber o que era o sofrimento, pois era uma coisa que ninguém sabia. Decididos, foram até o artefato. Examinaram-no por muito tempo sem saber o que fazer, e foi assim por muito tempo até que o labor lhes legou o pensamento lógico. À medida que estudavam, o raciocínio lhes invadiam como uma serpente veloz.

Chegou afinal o tempo em que conseguiram acionar o mecanismo. Houve uma explosão com alto estrondo e luz intensa. Todo aquele mundo de esplendor gerou uma imagem idêntica, porém, essa imagem não era etérea, ao contrário, era densa. Por instantes os dois mundos se observaram como pai e filho, se amaram e se emaranharam numa dança que gerou o tempo.
Os dois seres passaram a ser cobertos por aquela matéria densa que lhes trouxeram muita dor. O contato com o grande Ser não era tão claro como antigamente, mas ainda O Ouviam. O tempo passou e os dois seres geraram outros seres que na verdade eram seus irmãos de outrora que agora também utilizavam aquela mesma vestimenta densa.


Juntos eles viveram por milhares de anos, e aprenderam com o sofrimento, muitos valores que antes ignoravam. Então, finalmente chegou o dia em que totalmente enriquecidos de conhecimento, precisariam voltar ao grande Ser para voltarem a ser um. E assim, aquele mundo começou a desfazer-se até que implodiu. Todos perderam a casca material e mais uma vez eram etéreos, sem dor, sem sofrimento, unidos no seio do grande Ser. Aquele acontecimento se repetiria quantas vezes o grande Ser achasse necessário. Mas antes da próxima explosão, se amaram e confraternizaram com a grande odisséia vivida, e foi perfeito!


Autor: Júlio César

NAU

Navegar é preciso!
Mesmo que o horizonte seja fel
E a tempestade a derrube

Erga-se e conduze teu ideal
Por que a nau à deriva
Ainda não naufragou

Tomou por certo o caminho dos ventos
Traçou a rota pertinente da convicção
Olhou para o céu e içou tua bandeira!

Por fim, mesmo sem pleno vigor
Saiu mais intensa e menos tépida
Do que o mar que outrora a desafiou.
Autor: Luiz Neto